Gérson Siqueira

A presidente Dilma Rousseff está prestes a passar por uma situação, no mínimo, constrangedora. Nos próximos meses, a pedido do procurador-geral da União e da comunidade internacional, vai ter que apresentar relatório do andamento dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que deve ser criada com a aprovação do Projeto de Lei 7376/10, de autoria do Executivo.

Dilma vai colocar a mão num vespeiro, correndo o risco, até mesmo, de desagradar alguns integrantes da sua “tropa de choque”. A comissão tem como principal objetivo esclarecer os casos de violação aos direitos humanos, principalmente os cometidos durante o regime militar. A presidente e os familiares dos desaparecidos têm total interesse na sua aprovação. A primeira foi militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e sofreu horrores nas mãos do coronel Maurício Lopes Lima, colega de caserna (e de ofício) de Carlos Alberto Brilhante Ustra. Os últimos, por sua vez, querem exercer o legítimo direito de enterrar o que restou dos seus entes queridos.

O Brasil é o único País que ainda não aprovou a Comissão da Verdade- os vizinhos do Cone Sul já tem a sua- uma demonstração inquestionável de que em matéria de transparência e diplomacia, está perdendo o bonde da História. A comissão já tem ferrenhos opositores porque é uma resposta à Lei de Anistia aprovada em 1979, esta tornando intocáveis os agentes da União. Pode não cicatrizar as feridas deixadas na alma dos torturados, mas, pelo menos, fará justiça à memória dos mortos.

Gérson Siqueira, jornalista com 28 anos de profissão, é membro da ABI- Associação Brasileira de Imprensa.